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Um pé de quê? Quebracho


Quebracho
Pouca gente no Brasil conhece o quebracho. Mas essa árvore é famosa no Pantanal e faz parte da história e da vida do povo pantaneiro. O quebracho pode ser chamado também de braúna, chamucoco, coronilho, e tem a madeira muito, mas muito dura. Quebracho vem da expressão em espanhol “quebra acha”, que quer dizer “quebra machado”. A Schinopsis brasiliensis pode alcançar até 22 metros de altura e a largura do tronco varia de 40 cm a 70 cm. no Pantanal, essa árvore faz parte da paisagem.
O quebracho está totalmente inserido no cotidiano das fazendas, seja nos galpões, nas casas (em forma de cadeira, guarda-roupa ou estrutura), nas cercas e também na paisagem. Os quebrachos ao ar livre passam o dia inteiro só olhando o gado pastar, ouvindo os passarinhos cantar. Mas a vida dele não foi sempre essa moleza.
No século XIX, Paraguai, Argentina, Brasil e Uruguai se meteram em uma guerra sem muita razão de ser. A Argentina, o Uruguai e o Brasil formaram a tríplice aliança contra o Paraguai, que começava a mostrar independência demais. As batalhas incendiaram a região do rio Paraguai, que era um ponto estratégico de escoamento. Quem dominasse o rio, dominava a economia do inimigo.
Como já sabemos, a madeira do quebracho é dura, quase blindada. Por isso, alguém teve a ideia de plantar estacas de quebracho no leito do rio Paraguai, formando uma barreira submersa. Qualquer barco grande que tentasse passar, tinha o fundo do casco rasgado pelas toras. Ele foi tão usado como arma de guerra, que quase entrou em extinção. A sorte é que o quebracho é uma das árvores que mais produz sementes no Pantanal. Os quebrachos que não foram convocados trataram de espalhar seus filhos de novo pelas margens do rio Paraguai.
A guerra acabou em 1869. Mas o quebracho não teve sossego. Foi justamente nessa época que a economia pantaneira descobriu seu uso mais rentável e começou a extrair dele o tanino, substância muito usada na indústria farmacêutica e na curtição do couro.
Entre o século XIX e começo do XX, o Pantanal se tornou o maior produtor mundial de tanino. Esse boom coincidiu com o apogeu do porto de Corumbá, o maior da América Latina na época. Junto com o tanino, esse porto escoava toda a produção do oeste brasileiro e países vizinhos.
Aquela pacata árvore de fazenda revolucionou a economia local. Porto Murtinho e Corumbá fervilhavam com as toras de quebracho que não paravam de sair da mata. Porto Murtinho é uma cidade que nasceu do quebracho nos anos de 1930, em volta de uma das fábricas de tanino mais modernas do mundo, gerenciada por alemães membros do partido nazista.
Mas o Brasil entrou na Segunda guerra mundial e os alemães deixaram Porto Murtinho. Ao mesmo tempo descobriu-se uma fonte de tanino melhor do que o quebracho. O ciclo de ouro do quebracho estava próximo do fim.
Nada como um dia após o outro. Após o ciclo do quebracho, Porto Murtinho virou uma cidade normal. Corumbá investe no turismo e está melhorando. E o quebracho voltou à vida tranquila da fazenda. Não ficou famoso no mundo inteiro, mas continua muito querido no Pantanal.
Fonte: Almanaque Brasil Socioambiental (2008)

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