UM
PÉ DE QUÊ? AÇAÍ
O açaí é uma planta típica das florestas
de várzea do Baixo Amazonas. Quando você viaja pelos rios que circundam a
cidade de Belém, vê a paisagem toda emoldurada pelas folhas lisinhas e
brilhantes do açaí.
O açaí é uma palmeira cespitosa, quer
dizer, uma palmeira que cresce em touceiras (locais onde há agrupamentos de uma
mesma espécie de planta). Só numa touceira pode-se encontrar uns vinte pés de
açaí. O estipe, caule dessa palmeira, é bem fininho e chega à altura de 20 a 30
metros. Essa espécie, Euterpe oleracea, foi descrita por Von Martius,
naturalista alemão que ficou famoso no início do século XIX de tanto viajar
pelo Brasil. Mas antes de Von Martius, conta a lenda que foi a índia Iaçá que
descobriu que os frutos do açaí eram um excelente alimento. É uma história trágica:
Antes de existir a cidade de Belém,
vivia lá uma tribo que sofria de falta de alimentos. Por isso, o cacique mandava
sacrificar todas as crianças que nasciam. Por ironia do destino, sua filha,
Iaçá, ficou grávida. Quando a criança nasceu, foi sacrificada. Durante dias, Iaçá
rogou a tupã uma solução para acabar com o sacrifício das crianças. Foi quando
ouviu um choro de um bebê do lado de fora de sua tenda. Era sua filha
sorridente ao pé de uma palmeira. Iaçá correu para abraçá-la, mas acabou dando
de cara com a palmeira. Iaçá ficou ali chorando até morrer. No dia seguinte, o
cacique encontrou Iaçá morta, agarrada à palmeira, olhando fixamente para as
frutinhas pretas. Ele as apanhou, amassou e fez delas um vinho vermelho
encarnado. Para os índios, aquilo eram as lágrimas de sangue de Iaçá. Por isso,
açaí, em tupi, quer dizer “fruto que chora”.
O açaí virou o prato principal dos
índios da região. Depois, foram chegando os portugueses, os nordestinos, os
japoneses. E o que se diz é que eles só ficaram porque experimentaram açaí. O
açaí virou uma necessidade diária. Passou a fazer parte da identidade dessa nova
tribo que hoje vive na cidade de Belém.
Durante todo esse tempo, o açaí vem
sendo colhido pelos ribeirinhos. Quando chega na Feira do Açaí, é levado para lojas
que transformam o fruto em vinho e abastecem toda a população de Belém. São 3
mil lojinhas e 150 mil litros de vinho consumido por dia! Belém é o maior
centro consumidor de açaí do Brasil e, consequentemente, do mundo. Até que
alguém, lá no sul, descobriu que o palmito de açaí substituía bem o palmito de
juçara, que estava entrando em extinção na Mata Atlântica, e os nossos
açaizeiros começaram a ficar ameaçados. Isso foi nas décadas de 1960 e 1970. O palmito
do açaí passou a funcionar como uma poupança para o ribeirinho. Mas para fazer
um bom dinheiro, tinha que tirar muito pé de açaí, quase todos que encontrasse na
sua propriedade.
Por pouco o povo em Belém ficou sem a
sua papinha, não fosse o fato de que, lá no Rio de janeiro, surgiu uma outra
moda: a da maromba. Um dia, os lutadores de jiu-jitsu descobriram os poderes da
fruta do açaí e começaram a querer tomar o suco todos os dias. Isso foi, mais ou
menos, no final dos anos 1980. O mercado de palmito de açaí passou a ser menos importante
e os ribeirinhos perceberam que podiam ganhar mais dinheiro, e por mais tempo,
explorando a fruta. Os açaizeiros estavam salvos!
Fonte: Almanaque Brasil Socioambiental (2008)
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